sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Odara


Para um estado meu de felicidade.
Gosto de setembro chegando,
Meu corpo dançando,
Numa rota da alegria.
Para os dias da voz de Caê em meus ouvidos,
Uns anos passando e algo que não passa,
Feito pirraça,
Caetano em mim cantando,
Assim,
Odara
Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara
Minha cara minha cuca ficar odara
Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que se sonhara
Canto e danço que dara

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Marcas do fascínio

É assim. O olho que se lança e discursa. Vaticina daí a fé e invade. Presença da beleza. Fogo feito inspiração. A mão que segura a música, a voz que a espalha. Em nós. Ardor da beleza - vida da musicalidade. Palavra. Mulher-pássaro. Mítico pássaro palavra. Ela voa. E eu a sigo. Insisto: o melhor artista contemporâneo da canção brasileira.

sábado, 23 de agosto de 2008

Ave o vôlei do Brasil!


Ouro para nossas meninas! Uma alegria imensa pelas vitórias deste esporte que ocupa o topo do meu coração. E as meninas. E as mulheres marcando-se merecidamente em nome do espírito esportivo e da nossa brasilidade. Tem que ter. E sempre. Brasil vencendo no esporte, a gente se acreditando, sem medo de ganhar. Sem medo de ser feliz! Um dia de sorriso azulzinho no verde e amarelo que nos representa. Que conquista merecida. Como é bom ver vencer o talento, a determinação, a nobreza, a disciplina ocupando o centro da vitória. Nós em nossos símbolos, cerimônias e rituais: somos o melhor vôlei do mundo. Bravo, meninas! Obrigado.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Billie Holiday(II)

Billie

Mais uma vez, licença, para lembrar o que significou a invenção do canto se fazendo doer durante décadas nos Estados Unidos da América.
Mais uma vez: parcas palavras para registrar a presença inefável da melancolia produzindo a grande arte.
Mais uma vez, depois desta leitura, o cansaço de vocês saudando a voz feminina do século XX.
O traço do que realmente é belo, do que singra a imaginação alheia, desmantela a razão, acelera a emoção de outrem e na vaga das canções, aprisiona nossos ouvidos.
O rosto negro feminino mais bonito no inteiro da mulher gênio, a mais bonita e a maior cantora de todos os tempos.
Sangue escorrido na languidez da voz. Corpo erguido de prostíbulos. Marca eterna.
Cara safada. Jeito safado. Destino safado. Amor safado. Ocaso safado. Alma safada.
Torrentes da musicalidade jazzística numa territorialidade universal: STRANGE FRUIT.

A musical romance... Without your love...Fine and mellow…Solitude.

Tudo do não-efêmero para ser a voz que traz o silêncio.
Acabar-se no desespero e entregar-se à destruição, fagulhas da sua arte.
Aquela de 1915:o início. A dos anos 30 e 40: ápice. A de 1959: the end.

E agora, por ela, maior que técnicas e memória, o seu próprio ECO.


Assim,

“Cresci sob um teto sossegado,
meu sonho era um pequenino sonho meu.
Na ciência dos cuidados fui treinado.

Agora, entre meu ser e o ser alheio
a linha de fronteira se rompeu”.
Waly Salomão

Ou,

“Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada”.

Vinicius Moraes.

A voz de, 7 de abril, 91 anos inscrita na humanidade.

Marlon Marcos.


Holiday


Billie Holiday


Porque tudo é sem exatidão.
E um preço tremendo é sempre cobrado.
Porque senão cantar só com silêncio.
E só silêncio não dá.
E só de cara não há.
Maior que a vida é a arte.
E o que dói para sangrar
Deságua no outro feito prazer
Assim, gemendo, sofrendo à música.
Se abandonar, se perder, se entregar.
Não se sabe ao que.
Fazer da vida um desastre
Que seja uma tela sublime
Que permite a eternidade.
Fazer não. Inventar.
Essa coisa do canto.
Que está e ficará no sempre
De todas as gentes,
Maior que semente e tecnologia,
Fincando o dente na emoção humana,
Num sibilar saxofônico, no rosto
A trágica beleza que nada apagará,
Um cigarro na mão, as unhas vermelhas,
A centelha da satisfação,
A taça de vinho rodando
A eletrola tocando o vinil:
'On the way', 'Lover man',
O rosto de toda dor da voz
Nos olhos do amor
Que sempre estará.


P.S: Para Billie, que fez 92 anos no dia 07/04/2007. E nesse quando da dor, que quando nela, não existe alívio. E maior beleza nunca haverá!!! Ao meu amor!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Voz da razão

"Cheguei da Europa e soube, aqui, do crime que o prefeito de Salvador está cometendo no Porto da Barra. Não posso ficar calado. É uma indecência manter as pessoas desinformadas a ponto de entrarem na guerra suicida à calçada portuguesa. O calçamento português é marca importante da nossa vida física e espiritual. Os incômodos que porventura venham de sua má conservação não são motivo para destruí-lo. Em São Luís (atualmente a cidade mais bonita do Brasil), as antigas calçadas portuguesas foram restauradas com o esmero técnico adequado e não provocam trepidação em carrinhos de bebê nem engolem saltos de madames. E são vastas e extensas áreas da cidade que as ostentam. As praças de Lisboa apresentam a mesma firmeza e a mesma elegância. Por que há tantos baianos votando a favor desse descalabro? Será que voltamos ao mau gosto vulgar que dominava antes de Jaime Lerner recuperar o Largo da Ordem em Curitiba? Regredimos para visão grosseira que teria deixado o Pelourinho, em Salvador, e o Largo da Lapa, no Rio, virarem pó e serem substituídos pelo caos dos restos da arquitetura moderna que enfeiam o Brasil? São restos culturais de baixa qualidade que se oferece aos grupos emergentes da sociedade, em nome da democracia. Não creio que seja um caso para votações inspiradas nesse tipo degradado de democracia. É caso para ouvirem-se os especialistas, respeitarem-se os locais históricos e míticos, esboçar-se uma reestruturação inteligente da cidade. Se isso não agrada de imediato a uma (suposta) maioria desavisada, não importa. O essencial está num texto escrito por Ordep Serra: um texto excelente sob todos os pontos de vista. Então, um lugar como o Porto da Barra pode ser violado assim? Não. Protesto veementemente. Não se pode adotar piso de concreto e granito polido na curva do Porto e tampouco a retirada das árvores. O que é que há com Salvador que o prefeito começou a construção de uma favela nas areias da orla e esse esboço continua lá, enquanto uma horda de desinformados apóia a destruição do Porto da Barra?"
Caetano Veloso

sábado, 16 de agosto de 2008

Maricotinha


Agora , pra Caymmi, é claro, minha Maricotinha:
Se fizer bom tempo amanhã
Eu vou
Mas se por exemplo chover
Não vou
Diga a Maricotinha que eu
Mandei dizer que eu
Não tô
Não tô... não vou
Se fizer bom tempo amanhã
Eu vou
Mas se por exemplo chover
Não vou
Uma chuvinha, redinha, cotinha
Aí... piorou
Nem tô... nem vou
Se fizer bom tempo...

Jussara - canções de Caymmi

Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vento que dá na vela
Vela que leva o barco
Barco que leva a gente
Gente que leva o peixe
Peixe que dá dinheiro,
CurimãCurimã ê, Curimã lambaio
Curimã ê,
Curimã lambaio
CurimãCurimã ê,
Curimã lambaio
Curimã ê,
Curimã lambaio
Curimã
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vento que dá na vela
Vento que vira o barco
Barco que leva a gente
Gente que leva o peixe
Peixe que dá dinheiro,
Curimã
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento

A lenda das sereias

O canto de uma outra sereia. Lembrando vozes femininas que nos trazem o mar: Gal, Marisa, Jussara e Stella Maris. Vozes saídas da invenção de Caymmi. Vozes que nos refrescam de fantasia e vida. Marisa - o canto de Calypso - que aprendeu com a nossa Tétis, a maior das aquáticas - Gal Costa. Outras nobres aportagens: a lindíssima Jussara Silveira e a doce profunda Stella Maris. Lendas inteiras - sereias vivas:
Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Ynaê
Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar
Mar, misterioso mar
Que vem do horizonte
É o berço das sereias
Lendário e fascinante
Olha o canto da sereia
Ialaó, oquê, ialoá
Em noite de lua cheia
Ouço a sereia cantarE o luar sorrindo
Então se encanta
Com as doces melodias
Os madrigais vão despertar
Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia
Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia
A paz, ela semeia
A paz, ela semeia
Oguntê, Marabô
Caiala e SobáOloxum,
Ynaê Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar

Rainha do Mar



Minha sereia é rainha do mar
Minha sereia é rainha do mar
O canto dela faz admirar
O canto dela faz admirar
Minha sereia é a moça bonita
Minha sereia é a moça bonita
Nas ondas do mar aonde ela habita
Nas ondas do mar aonde ela habita
Ai, tem dó de ver o meu penar
Ai, tem dó de ver o meu penar

Morena do Mar

Senhor Dorival: retorne para o âmago da sua criação e síntese da sua grandeza! A Bahia lhe agradece. Sobre sua morte, como diria Clarice: "Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre". Iemanjá já lhe deu condução. Axé, mestre maior!
Ô morena do mar, oi eu, ô morena do mar
Ô morena do mar,sou eu que acabei de chegar
Ô morena do mar
Eu disse que ia voltar
Ai,eu disse que ia chegar,
Cheguei
Ô morena do mar, oi eu,
Ô morena do mar
Ô morena do mar,sou eu que acabei de chegar
Ô morena do mar
Eu disse que ia voltar
Ai,eu disse que ia chegar,
Cheguei
Para te agradar
Ai,eu trouxe os peixinhos do mar
Morena
Para te enfeitar,
Eu trouxe as conchinhas do mar
As estrelas do céu
Morena
E as estrelas do mar
Ai,as pratas e os ouros de Iemanjá
Ai,as pratas e os ouros de Iemanjá

Agora, sem Caymmi...

É doce morrer no mar
É doce morrer no mar,
Nas ondas verdes do mar
A noite que ele não veio foi,
Foi de tristeza pra mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi pra mim
É doce...
Saveiro partiu de noite, foi
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou.
É doce...
Nas ondas verdes do mar, meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá

Borderline


Meu gosto de adolescência :


Something in the way you love me won't let me be
I don't want to be your prisoner so baby won't you set me free
Stop playing with my heart
Finish what you start
When you make my love come down
If you want me let me know
Baby let it show
Honey don't you fool around
Just try to understand,
I've given all I can,
'Cause you got the best of me
Borderline feels like
I'm going to lose my mind
You just keep on pushing my love over the borderline
Keep on pushing me baby
Don't you know you drive me crazy
You just keep on pushing my love over the borderline
Something in your eyes is makin' such a fool of me
When you hold me in your arms you love me till
I just can't seeBut then you let me down, when I look around, baby you just can't be found
Stop driving me away,
I just wanna stay,
There's something
I just got to say
Just try to understand,
I've given all I can,
'Cause you got the best of me
Keep on pushing me baby
Don't you know you drive me crazy
You just keep on pushing my love over the borderline
Look what your love has done to me
Come on baby set me free
You just keep on pushing my love over the borderline
You cause me so much pain,
I think I'm going insane
What does it take to make you see?
You just keep on pushing my love over the borderline

Madonna: 50 anos


Ela nasceu em 16 de agosto de 1958. Tornou-se o maior nome feminino da cena musical pop no mundo. E é a grande estrela das inovações fonográficas entre todos nós. 50 anos "inteiraços".Um misto de inteligência, persistência, auto-publicidade, criatividade, ousadia, dissimulação, oportunismo, magnetismo e SORTE! Madonna - uma das melhores coisas que pupulam atualmente na terra, que chegam como consumo e que vieram dos Estados Unidos da América.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Clarice

"Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre"

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Casa Branca: festa e movimento


O Ilê Axé Iyá Nassô Oká, a conhecida Casa Branca, está às voltas com a preparação das louvações anuais ao orixá maior na liturgia do candomblé brasileiro: Oxalá. Cada detalhe para esta poderosa energia da cor branca (funfun em iorubá), pai de todos os orixás, senhor da fertilidade, benfeitor da vida humana, é planejado com esmero pela aquela comunidade, aos comandos da iyá Tatá de Oxum. O calendário festivo começa dia 31/08 em homenagem a Oduduwa; dia 07/09 é Oxalufã o festejado; e o dia 14/09, último domingo, é dedicado ao senhor da paz e da guerra, Oxaguian. Estas cerimônias são abertas ao público e começam sempre às 20h..
E é através da intervenção espiritual de Oxaguian, que o Terreiro da Casa Branca luta contra os desmandos do governo do atual prefeito de Salvador, João Henrique, que demonstra total inabilidade para lidar com a diversidade religiosa em nossa cidade, em especial com o universo das religiões afro-brasileiras, que em pleno século 21, ainda se desgastam para ser consideradas religião como qualquer outra existente no Brasil e no mundo.
A Casa Branca é tida por estudos historiográficos e antropológicos, como o templo mais antigo em nosso País, no modelo classificatório erguido pelas pesquisas clássicas de Vivaldo da Costa Lima, também referendadas pelo antropólogo Luis Nicolau Parés. Muitos intelectuais, artistas, e até políticos, estão solidários a esta necessária batalha que não é só do referido terreiro, que foi, em tese, obrigado a pagar mais de 800 mil reais de IPTU, sendo tombado pelo IPHAN, desde os idos anos 80, como Patrimônio nacional, e é instituição religiosa, imune a pagamento de taxas desta natureza, como nos assegura a Constituição desta nação.
Outros terreiros também estão em demanda com a prefeitura, que, meses atrás, mandou derrubar parte do Oyá Onipó Neto, localizado no bairro da Boca do Rio, e depois, alegando equívoco, tratou de “reconstruí-lo”. O prestigioso Terreiro de Oxumaré, comandado por babá PC, filho deste vodum, também foi requisitado a pagar impostos e engrossa com peso o filão de repúdio a um mandato ingênuo, que não consegue entender que o candomblé sobreviveu à escravidão, que mães e pais-de-santo são intelectuais de uma saber que não se aprende na escola, que além de combater racismos generalizados, fez parte dos movimentos negros brasileiros, reconhecer esta religião como um instrumento de afirmação identitária e de valorização da auto-estima dos afro-descendentes deste País.
Em nome da Casa Branca, à frente deste movimento, além do antropólogo e ogã Ordep Serra, está a veneranda Gersonice Brandão, 65 anos, iniciada pela saudosa Nitinha de Oxum, e mais conhecida como ekedy Sinha. Em recente entrevista a Cláudio Leal, do Terra Magazine, ela declarou: “Eles precisam saber que nós da Casa Branca, como toda entidade religiosa, seja de ketu, umbanda, ijexá, somos fortes como uma rocha”. Prefeito, tenha certeza disso!
(Publicado em Opinião do A Tarde em 11/08/2008)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

07 de Agosto de 1942


São muitos significados aqui. A presença deste humano na minha vida e na vida cultural do meu país é reluzente. Uma coisa, em mim, mais que resolvida.Uma tarefa de aprendizado contínuo e ininterrupto, acrescido de criatividade e extensa fruição artística. E mais que tudo: AMOR. Assim: alguém que eu não conheço, não está no meu cotidiano, em meu circuito de amigos e familiares, mas está inteiro inscrito em minha memória afetiva, em minha cognição, em meu senso estético, em minha escrita... Para além do que não se explica e se recebe pelas nuances poderosas da cultura popular no Brasil. Ele, o maior maestro! 66 anos de inquietação e genialidade. O nome da delícia dolorosa da beleza que há em mim: Caetano Veloso.

domingo, 3 de agosto de 2008

Mãos que nos falam


Não basta o desenho da voz que nos invade e explica. Nem a beleza que abusa da diferença e derruba modelos consolidados. Não basta a dramaturgia geral do corpo, o olhar de águia, a boca que quando não canta se encerra em silêncio para manter intacto o mistério. Tinha que ter mãos. Esvoaçantes e elucidativas. Mãos que detalham sua personagem e ampliam sua inteligência. Adornadas de ouro, ventilando respostas e perguntas, ensinando-se-nos. A moça do sonho de qualquer homem ou mulher - bailarina que mais dança com as mãos e assegura o seu domínio cênico. Ouro e Ventania. Oxum. Iansã. Estesia de tudo que se faz tátil e ainda flui como vento, como água. Mãos que nos falam.