O verdadeiro lance é que eu continuo um grande sonhador, cheio de tarefas para cumprir e ideais de beleza para realizar!
segunda-feira, 30 de junho de 2014
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Do alheamento
Para ver...
e ter...
no alheamento
de mim mesmo
fazendo sentido
sem esconderijo
como tem que ser
entre águas e matas
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Oração do dia
Que eu seja livre o suficiente para não fazer sentido.
Que eu tome conta de mim certo de que comigo sempre contarei.
Que eu tenha coragem para dizer não e hombridade para sempre
agradecer.
Sabedoria para lidar com a maldade do outro e força para me
apartar da minha.
Discernimento, meu Deus, para escolher as companhias.
E ser como me escolhi para ser ao longo de 44 anos...
Que eu tenha alegria.
Que saiba do meu tamanho neste mundo.
E me comunique sem a ânsia do sucesso
E fora dos exageros de quem se rasga por celebridade.
Eu quero paz e sossegar no colo de alguém
Sem me tornar escravo de ninguém
E sem escravizar a quem eu amo.
De novo: que eu tenha coragem e assim,
Como aqui, eu exerça a minha comunicação
E me proteja da perversidade dos religiosos e dos ateus.
Que o amor que vinga no meu peito me seja norte
E eu tenha hora para concordar e hora para discordar.
Que seja eu inteiro e certeiro para realizar os sonhos
Que me convencem a estar nesta vida.
Entre Deus, Anjos e Orixás
E as Águas da Mãe e do Pai
Que sustentam minha existência.
frida kahlo
algo pra ser que deriva força faz pergunta pinta sol retalha afasta encerra mente chove vibra chora méxico fêmea gay bicho vulva resposta esperma coragem feio dança cursi arde lindo manis frieda novia flapper madonna homem história morre alta vive morte alegria partida kahlo.
domingo, 22 de junho de 2014
Quintais do Brasil de Maria Bethânia
É mês de junho no país que festeja
Santo Antônio, São João e São Pedro. País onde nasceu Maria Bethânia, a
cantora. Neste mesmo mês em que ela nasceu, e que completa 68 anos, Bethânia
nos presenteia com seu mais novo trabalho: o CD Meus Quintais, saindo pela
gravadora carioca Biscoito Fino.
Tem que se fazer 49 anos de carreira,
não ter medo de ser o que se escolheu ser, manter a coerência artística sem
evitar riscos, mas baseando-se nos caminhos estéticos eleitos pelo desejo de
expressão, para poder oferecer ao país um CD que desenha a atmosfera da
infância, os fundos da casa interiorana, louvando os caboclos, as tradições
indígenas reinventadas nesse tempo, mas apagadas dos cenários midiáticos pelas
cruéis demandas urbanas.
A mulher aprimorou o canto, à quase
perfeição, para brincar com sons e palavras a favor de imagens que devassam a
simplicidade, nos mostrando um Brasil positivo que insistimos, por burrice
existencial, fingir esquecer porque recupera o indígena na construção desta
civilização.
Meus Quintais é um primor em
lítero-musicalidade, mas, melhor que isso, é um serviço ao índio, aos caboclos
nortistas, com tempero da literatura (traz texto de Clarice Lispector),
brincadeira e coragem da artista que se eterniza fazendo, nos últimos trabalhos,
uma espécie de antropologia veiculada pela indústria do audiovisual.
A cantora tribaliza o Brasil,
arregimenta talentos como Adriana Calcanhotto, Roque Ferreira, Dori Caymmi,
Paulo César Pinheiro, para espalhar o que é mais simples e está contido no mais
complexo, misturando aspectos de sua infância com a sua atual maturidade, compondo
uma narrativa sonora, alicerçada na forma canção, onde o mito e o vivido
remontam o sentido de se sentir saudade – a que, no caso da cantora, é a mais
legítima: sua falecida mãe, dona Canô.
O disco é um reflexo no espelho:
uma senhora de 68 anos, a noticiar os feitos do tempo e a redesenhar ontologias
do brasileiro, a caminhar por uma discursiva trajetória que nos aquece de
música, de poesia, sem deixar olhares históricos e socioantropológicos de fora.
Marlon Marcos é jornalista e antropólogo email: ogunte21@yahoo.com.br
(Publicado no Jornal A Tarde, em 21 de junho de 2014, Opinião, p. 3)
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sexta-feira, 20 de junho de 2014
Não
sono em suspensão
e eu, atoamente, aqui
lavrado em autocarinho
rabiscando não
a favor da arte final.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Para Chico, 70 anos!
Meu doce Chico,
um grande dia de aniversário para você
e a sua música e a sua poesia
ensolarando ainda mais os dias brasileiros
e às noites: a valsinha da emoção
encontrando o amor.
Maio - A perigosa Iara
.Ao cair de
todas as tardes, a Yara, que mora no fundo das águas, surge de dentro delas,
magnífica. Com flores aquáticas enfeita então os cabelos negros e brinca com os
peixinhos de escapole-escapole. Mas no mês de maio ela aparece ao pôr-do-sol
para arranjar noivo.
As mães se
preocupam com seus filhos varões, sabedoras de que a Yara quer noivos. Mas para
os filhos, Yara é a tentação da aventura, pois há rapazes que gostam de perigo.
À medida que
a Yara canta, mais inquietos e atraídos ficam os moços, que, no entanto, não
ousam se arriscar.
Sim, mas
houve um dia um Tapuia sonhador e arrojado. Pensativamente estava pescando e esqueceu-se
de que o dia estava acabando e que as águas já se amansavam. Foi quando pensou:
acho que estou tendo uma ilusão. Porque a morena Yara, de olhos pretos e
faiscantes, erguera-se das águas. O Tapuia teve o medo que todo o mundo tem das
sereias arriscadas — largou a canoa e correu a abrigar-se na taba. Mas de que
adiantava fugir, se o feitiço da Flor das Águas já o enovelara todo?
Lembrava-se do fascínio de seu cantarolar e sofria de saudade. A mãe do Tapuia
adivinhara o que acontecia com o filho: examinava-o e via nos seus olhos a
marca da fingida sereia.
Enquanto
isso, Yara, confiante no seu encanto, esperava que o índio tivesse coragem de
casar-se com ela. Pois — ainda nesse mês de florido e perfumado maio — o índio
fugiu da taba e de seu povo, entrou de canoa no rio. E ficou esperando de
coração trêmulo.
Então —
então a Yara veio vindo devagar, devagar, abriu os lábios úmidos e cantou suave
a sua vitória, pois já sabia que arrastaria o Tapuia para o fundo do rio.
Os dois
mergulharam e advinha-se que houve festa no profundo das águas.
As águas
estavam de superfície tranqüila como se nada tivesse acontecido. De tardinha,
aparecia a morena das águas a se enfeitar com rosas e jasmins.
Porque um só
noivo, ao que parece, não lhe bastava.
Esta
história não admite brincadeiras. Que se cuidem certos homens.
CLARICE LISPECTOR
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terça-feira, 17 de junho de 2014
Maria Bethânia, 68 anos!
Ela se veste na elegância da sua própria caminhada. Desenha
vigor e esperança quando canta e imprime possibilidades estéticas, às vezes,
combatendo a ferocidade das críticas que se opõem às escolhas do que ela elege
como expressão. É um mito em termos de coerência artística, uma voz para a pura
fruição, mas que se qualifica a indicar caminhos culturais, educativos,
humanos, que nos respeitam em nossas identificações como brasileiros.
Inventiva: uma senhora menina que faz hoje, dia 18 de junho, 68
anos, numa carreira de quase 50, marcando-se em reiterações e saudando o
popular, o sublime escondido, a força negra e indígena que nos perfila como
povo em diálogo com outros povos brancos ou quase brancos que chegaram a isso
que temos e amamos como Brasil.
Nisso tudo: brota dela poesia, a busca por novas sonoridades, a
alma cabocla brasileira, o sertão da lua ao som das violas, a palavra do
português mais claro, a vontade de amar, a sede do amor, a paixão pelo palco, a
missão de querer estar para simplesmente cantar o que advém do mistério das
sereias, no nosso caso, do mistério das Iaras.
Tenho um sonho doce e edificante por ouvir Maria Bethânia nas
duas últimas décadas - me pego a ler Sophia de Mello Breyner, Fernando Pessoa,
Clarice Lispector, impulsionado pela vazão literária que nunca escapa da verve
expressiva da cantora - uma das maiores vozes do mundo contemporâneo - sem
vergonha de ser brasileira nascida no interior da Bahia entre o agreste e às
águas do Recôncavo.
Uma presença que nos dignifica e humaniza pelos conceitos que
opera em nome da sua verdade artística. Uma senhora sem medo da sua imagem de
senhora. Simbolizando fé e otimismo em defesa da vida, da água, da folha, da
sabedoria, da educação de todos aqui, e mais, como profunda diversão, da inserção
da poesia como alimento diário dos corpos e das almas de qualquer brasileiro.
Controle de qualidade - doutora notório saber em teatro,
literatura, música popular, antropologia, história e veracidade. Grande!
Um ente que a Bahia deu ao Rio de Janeiro e que, como
brasileira, nos orgulha em qualquer lugar deste mundo.
sexta-feira, 6 de junho de 2014
meus quintais (2)
"Ainda está muito longe de eu desvendar o mistério do
canto. Acho lindo uma
pessoa emitir. Um dessa maneira, outro daquela, essa
individualidade que Deus
determina. A voz traduz isso. E é o ar, sem o qual
você não vive, que é o
elemento do meu orixá. Fica uma casa boa para mim. Meu
quintal."
Maria Bethânia!
- Eu amo esta mulher!
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quinta-feira, 5 de junho de 2014
meus quintais
Tudo tão simples que dá muito gosto em viver. Cada palavra voltada a dizer sobre o cotidiano de coisas tão brasileiras quanto esquecidas, e vem como música no canto da velha índia: só consigo me enxergar nesta antropologia com a pureza da minha condição frente a ela, a cantora: eterno aprendiz.
Gosto de ouvir Bethânia cantar, gosto de ouvir Bethânia falar - o som da sua voz se faz pajelança em mim e eu assisto a sua auto-cura e a cura de todos nós...
Meus Quintais, novo CD. Mais ainda a força da saudade mais legítima...Meu prazer de ter essa possibilidade auditiva - de eu envelhecer vendo esta mulher envelhecida como a mais nova das novidades dentro da sua capacidade inesgotável de se fazer Senhora da Beleza!
Este disco me dá guarida, se faz casa minha como a casa que tenho dentro do meu peito e chamo amor.
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